Demarcação já! une clameur des artistes en faveur des droits de indiens, direction André d’Elia (Cinedelia)

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Gilberto Gil - Demarcaçao Ja

Artistes brésiliens, sous la direction de André d’Elia  enregistrent une vidéo en faveur de la démarcation des terres des indiens brésiliens.

Paroles : Carlos Rennó. Músique : Chico César. Artistes: Ney Matogrosso, Maria Bethânia, Gilberto Gil, Djuena Tikuna, Zeca Pagodinho, Zeca Baleiro, Arnaldo Antunes, Nando Reis, Lenine, Elza SoaresLirinha – José Paes de Lira, Leticia Sabatella, José Celso Martinez Corrêa, Tetê Espíndola, Edgard Scandurra, Zélia Duncan, Jaques Morelenbaum, Dona Onete, Felipe Cordeiro, Criolo, Marlui Miranda, BaianaSystem,Margareth Menezes
Céu.
Participation: Eduardo Viveiros de Castro, André Vallias
Ailton Krenak.
Production : Cinedelia. Direction : André Vilela D’Elia.

 

La démarcation (demarcação) des terres des peuples indigènes du Brésil est un droit reconnu par l’article 231 de la constitution brésilienne de 1988 et toujours en cours de réalisation en 2014. Elle entraîne de nombreux conflits économiques, politiques et juridiques. En 2011, 400 terres indigènes sont démarquées, de nombreux procédures sont en cours, suspendues ou l’objet de batailles juridiques.

Les terres indigènes sont selon le droit brésilien « inaliénables et indisponibles, et donc sans possibilité aucune de négociation ou de prise en compte des intérêts économiques (qu’ils soient d’entreprises minières ou d’exploitation de bois, d’orpailleurs, de grands propriétaires terriens ou de petits paysans) ou politiques (secteurs militaires ou gouverneurs des États concernés) »1. Dans de nombreux endroits, ces différents groupes ont pourtant essayé et parfois réussi à occuper des terres, soit par la force, soit en tentant d’exploiter des failles juridiques : nier l’identité indigène de certains peuples, contester la délimitation de certains territoires, créer des réserves écologiques à vocation économique pour permettre l’exploitation des ressources.

Concrètement, la démarcation passe par une étude cartographique, environnementale, ethnologique et historique dirigée par un anthropologue assisté d’un groupe technique spécialisé chargé de réaliser des études de nature ethnologique, historique, juridique, cartographique et environnementale. L’étude est ensuite validée ou amendée par la Fondation Nationale de l’Indien. La reconnaissance officielle passe par une démarcation physique consistant à installer des panneaux d’interdiction d’accès sur les voies conduisant aux terres indigènes2.

Plus de 25 ans après la promulgation de la constitution, lors de la cérémonie d’ouverture de la coupe du monde de football de 2014 à São Paulo, un des trois enfants chargés du lâché de colombe, amérindien, brandit une banderole « demarcação » pour dénoncer le non-respect de ce droit. Le geste est censuré sur les télévisions3

 

Letra completa de “Demarcação Já!”

Já que depois de mais de cinco séculos

E de ene ciclos de etnogenocídio,

O índio vive, em meio a mil flagelos,

Já tendo sido morto e renascido,

Tal como o povo cadiveu e o panará –

Demarcação já!

Demarcação já!

Já que diversos povos vêm sendo atacados,

Sem vir a ver a terra demarcada,

A começar pela primeira no Brasil                  

Que o branco invadiu já na chegada:

A do tupinambá –                            

Demarcação já!

Demarcação já!

Já que tal qual as obras da Transamazônica,

Quando os milicos os chamavam de silvícolas,

Hoje um projeto de outras obras faraônicas,

Correndo junto da expansão agrícola,

Induz a um indicídio, vide o povo kaiowá,

Demarcação já!

Demarcação já!

Já que tem bem mais latifúndio em desmesura

Que terra indígena pelo país afora;

E já que o latifúndio é só monocultura,

Mas a TI é polifauna e pluriflora,

Ah!,

Demarcação já!

Demarcação já!

E um tratoriza, motosserra, transgeniza,

E o outro endeusa e diviniza a natureza:

O índio a ama por sagrada que ela é,

E o ruralista, pela grana que ela dá;

Bah!

Demarcação já!

Demarcação já!

Já que por retrospecto só o autóctone      

Mantém compacta e muito intacta,

E não impacta e não infecta,

E se conecta e tem um pacto com a mata

–Sem a qual a água acabará –,

Demarcação já!

Demarcação já!

Pra que não deixem nem terras indígenas        

Nem unidades de conservação

Abertas como chagas cancerígenas

Pelas feridas da mineração

E de hidrelétricas no ventre da Amazônia, em Rondônia, no Pará…

Demarcação já!

Demarcação já!

Já que tal qual o negro e o homossexual,

O índio é “tudo que não presta”, como quer

Quem quer tomar-lhe tudo que lhe resta,

Seu território, herança do ancestral,

E já que o que ele quer é o que é dele já,

                        

Demarcação, tá?               

Demarcação já!

Pro índio ter a aplicação do Estatuto

Que linde o seu rincão qual um reduto,

E blinde-o contra o branco mau e bruto

Que lhe roubou aquilo que era seu,

Tal como aconteceu, do pampa ao Amapá,

Demarcação lá!

Demarcação já!

Já que é assim que certos brancos agem,

Chamando-os de selvagens, se reagem,

E de não índios, se nem fingem reação

À violência e à violação

De seus direitos, de Humaitá ao Jaraguá,

Demarcação já!

Demarcação já!

Pois índio pode ter Ipad, freezer,

TV, caminhonete, voadeira,

Que nem por isso deixa de ser índio

Nem de querer e ter na sua aldeia

Cuia, canoa, cocar, arco, maracá.       

Demarcação já!

Demarcação já!

Pra que o indígena não seja um indigente,

Um alcoólatra, um escravo, um exilado,

Ou acampado à beira duma estrada,

Ou confinado e no final um suicida,

Já velho ou jovem ou – pior – piá,

Demarcação já!

Demarcação já!

Por nós não vermos como natural

A sua morte sociocultural;

Em outros termos, por nos condoermos –

E termos como belo e absoluto

Seu contributo do tupi ao tucupi, do guarani ao guaraná.

Demarcação já!

Demarcação já!

Pois guaranis e makuxis e pataxós

Estão em nós, e somos nós, pois índio é nós;

É quem dentro de nós a gente traz, aliás,

De kaiapós e kaiowás somos xarás,

Xará.

Demarcação já!

Demarcação já!

Pra não perdermos com quem aprender

A comover-nos ao olhar e ver          

As árvores, os pássaros e rios,

A chuva, a rocha, a noite, o sol, a arara  

E a flor de maracujá,

Demarcação já!

Demarcação já!

Pelo respeito e pelo direito

À diferença e à diversidade

De cada etnia, cada minoria,

De cada espécie da comunidade

De seres vivos que na Terra ainda há,

Demarcação já!

Demarcação já!

Por um mundo melhor ou, pelo menos,

Algum mundo por vir; por um futuro

Melhor ou, oxalá, algum futuro;

Por eles e por nós, por todo mundo,

Que nessa barca junto todo mundo tá,

Demarcação já!

Demarcação já!

Já que depois que o enxame de Ibirapueras      

E de Maracanãs de mata for pro chão,

Os yanomami morrerão deveras,

Mas seus xamãs seu povo vingarão,

E sobre a humanidade o céu cairá,

Demarcação já!

Demarcação já!

Já que por isso o plano do krenak encerra

Cantar, dançar, pra suspender o céu;

E indígena sem terra é todos sem a Terra,

É toda a civilização ao léu                                      

E ao deus-dará,

Demarcação já!

Demarcação já!

Sem mais embromação na mesa do Palácio,

Nem mais embaço na gaveta da Justiça,

Nem mais demora nem delonga no processo,

Nem mais parola nem pendenga no Congresso,

Nem lengalenga, nenhenhém nem blablablá!

Demarcação já!

Demarcação já!

Pra que nas terras finalmente demarcadas,

Ou autodemarcadas pelos índios,

Nem madeireiros, garimpeiros, fazendeiros,

Mandantes nem capangas nem jagunços,

Milícias nem polícias os afrontem.

Vrá!

Demarcação ontem!

Demarcação já!

E deixa o índio, deixa os índios lá